The Loveful Fairy Tale- Parte1

O sol se escondia lentamente atrás das nuvens rosadas e amarelas, o amplo jardim da fortaleza de Smorbourn era banhado pelo brilho cálido dos últimos raios de sol e o céu lembrava o quadro mais belo que um artista poderia fazer em toda a sua vida. Katrina estava sentada na grama do jardim, escondida pelo caule esguio das flores, pelos espinhos das rosas e pelas pétalas minúsculas das violetas.

- Desista, Morris...você nunca me achará! - ela ria divertidamente do seu companheiro.- Nem ouvindo a minha voz consegue saber onde estou...- Katrina deitou de bruços sobre a grama e apoiou o rosto nas mãos. - Quem sabe se eu falar mais alto...

-Você está debochando de mim agora, Katrina...mas vai ver quando eu achá-la! Ou melhor, vai ver quando eu não achá-la! A noite vai cair e você ficará sozinha perdida nos fundos do castelo.

-Ah...você não faria isso...- ela falou baixinho, estava longe demais para ser ouvida. Esticou o corpo para ter mais contato com a terra e começou a respirar lentamente, sem emitir som algum. Ela olhava para cima, para as cores quentes que o sol projetava no azul do céu.

-Continue falando, assim não posso achá-la! - Morris era um garoto alto, de pele brilhante como cobre e cabelos cor de mel, e que não possuia mais do que doze anos. Suas roupas lembravam o tecido com que era feitas as sacas para transportar trigo e um suspensório escuro cruzava a camisa do menino. Mas o que mais chamava a atenção na sua aparência eram os seus olhos profundos e sem visão, que encaravam o horizonte de uma forma tímida e reclusa. Provavelmente o mundo que os seus olhos cegos projetavam era sinistro demais para que ele fosse uma criança audociosa e destemida.

-Está ficando escuro, Morris. - Katrina se sentou no meio das flores, o céu atrás dela ganhava pinceladas de azul escuro. Katrina era alva como a lua que despontava acima deles, os cabelos negros e sedosos lhe caiam sobre os ombros e sobre a sobrancelha havia uma franja que quase cobria seus olhos. Ela era um pouco mais velha que ele, tendo já catorze anos e possuindo todos os adjetivos que a faziam o oposto de Morris. Ao contrário dele, também, já não parecia mais tão infantil, com catorze anos o seu corpo já possuia curvas de uma mulher e os seus olhos já estavam começando a se acostumar com a arte da sedução. Enquanto Morris ainda tinha o rosto arredondoda, os olhos grandes e medrosos e a inocência dignas de uma criança. - Vamos, você está bem perto de mim.  

Morris apoiava-se nos troncos de árvores e pisava com cautela, uma mão tateava o ar, era a mão que procurava Katrina incansavelmente. A garota o olhava com admiração, sabia que ele conseguiria, embora estivesse demorando muito. Decidiu ir até ele e facilitar seu trabalho, ela engatinhou e levantou-se procurando fazer o mínimo de barulho possível.

-Acho que te encontrei, Kat...- ele sorriu, esperançoso. Um sorriso que fazia Katrina sorrir também. "Ele se julga muito esperto mesmo", ela pensou. Morris inclinou as duas mãos para frente e tentou tocar a menina, mas ela recuou quase fazendo-o cair. - Fique parada para que eu possa...tocá-la... -  ele deu um passo a frente, mas Katrina recuava, encarando os cegos olhos de Morris. - O que há com você? Ainda está aí?

Katrina não respondeu, sentia a brisa da noite passar entre o seu corpo e o dele e mover seus cabelos e o seu vestido, tentou se aproximar dele sem tocá-lo. A brisa trazia o cheiro de Morris para Katrina e tudo que ela mais desejava era cheirá-lo por toda a eternidade, sabia que se acabasse a brincadeira ali, ele jamais entenderia este seu sentimento. Ela o amava, mas jamais admitiria isso para ele apenas por orgulho. Os olhos negros dela fecharam-se e ela aproximou o rosto do dele, o vento ainda trazia o aroma dele e fazia ambos os cabelos se bagunçarem. Ela aspirou profundamente a brisa da noite e o cheiro doce de flores de jardim de Morris.

-O que está fazendo, garota? Fale comigo! - ele estava impaciente, não gostava de se sentir só sem a sua companheira mais velha. Estava desprotegido, embora, mesmo cego, apenas ele soubesse o caminho de volta. Ele sentiu então o toque do cabelo dela e o seu cheiro mesclar-se ao dela. Kat estava novamente pregando uma peça nele, mas dessa vez ela não sairia vencedora. - Te peguei! - ele a empurrou contra a grama e correu sem se apoiar em nada, fazendo o caminho o inverso.

Katrina caiu surpresa, para ela foi a queda mais lenta de toda sua vida, as pétalas de rosa da grama esvoaçaram com a queda ao seu redor mas o perfume delas não estava mais lá, o perfume havia partido com Morris. Sentia o cheiro do seu amado transpassar todo o seu corpo e ir embora sem ela, sentia-se mais cega do que ele por ter deixado se inebriar com o breve contato que tiveram. Ele havia mesmo partido sem ela e ela antes sentia-se segura demais para afirmar que ele nunca faria isso. Será que ele era tão bobo a ponto de não ter percebido o quanto aquilo tinha sido doloroso para ela? Ela corou e baixou os olhos, apertando a grama para puní-la pela falta de atenção dele.

O castelo da fortaleza de Smorbourn estava há poucos metros de Morris, ele correra bastante e esperava ter pregado uma boa peça em Katrina. Ela jamais o faria de bobo novamente, ele entrou no castelo por uma das portas da cozinha, mas esbarrou em alguém no momento em que entrou, pela textura da roupa e pela forma do corpo, ele só podia imaginar que fosse Katrina...mas como ela poderia ter chegado tão rápido ao castelo?